Presente que dinheiro não paga

Aventuras de um boleiro amador
 Fotos: Roger Bahia
Pé de Areia (short branco) ao lado do professor Tonho Galera e Marcos é o professor de Bela Vista (short preto)
A vida apronta várias surpresas. Outro dia eu ouvi de um jovem a seguinte frase: "deixei a música por causa do trabalho e agora eu só penso em dinheiro, ainda mais quando se recebe o primeiro salário". De certa forma ele tem razão. Quem não quer ter um carro zero? Uma moto Honda Tornado, ou mesmo uma casa na praia de Jauá? Claro, que pra isso tem que ter grana.

Embora a maioria pense assim, eu estou na fase de me contentar com pequenas coisas. Fui convidado para cobrir uma partida de futebol entre duas escolinhas: Bela Vista X Pé de Areia. A princípio, o camarada que havia feito o convite, queria me pagar, mas eu não cobrei. Antes de iniciar o jogo, teve a sessão de fotos e as crianças posaram como profissionais.

Caramba, como fiquei bem na foto! Ao meu lado está Mateus, que cumpriu o que prometeu
O árbitro não tinha auxiliar, e quem disse que precisava? A alegria era tanta, que o meia Mateus de 12 anos prometeu fazer um gol em minha homenagem. Bola rolando, corre-corre, pé aqui outro alí, erros consecutivos de arbitragem, mas dá um desconto, puxa o cara só estava ajudando. Fim do 1º tempo, 0 X 0 no placar. Me dirigi ao atleta que havia prometido o gol e falei.

"Mateus cadê o gol que você falou que faria pra mim?" Ele me olhou sorridente e respondeu: "calma, falta muito jogo pela frente", falou enquanto corria para beber água. Ele só precisou de 12 minutos para cumprir a promessa. O próprio Mateus (11) do Bela Vista iniciou a jogada na entrada da área adversária e chutou forte.

O goleiro Eduardo (1) não segurou a bola e no bate-rebate o garoto fez a alegria do Jornalista. Mateus olhava por todos os lados me procurando, até que o coleguinha o alertou: "olha ele alí!" Eu não sabia que tinha mais presente. André Nilson o craque de Pé de Areia de apenas 10 anos, ficou irritado e ao passar por mim chutou a bola para fora.

Obrigado André Nilson, pela oportunidade que você me deu em ser fotografado ao seu lado
Encostei pertinho dele e falei: "não fique nervoso, daqui a pouco seu time empata". A profecia se cumpriu e aos 20 do 2º tempo o goleiro Eduardo apareceu mais uma vez, só que para empatar a partida em uma bela cobrança de falta, que o golerio engoliu um frangaço. Fim de jogo Bela Vista 1 X 1 Pé de Areia, mas e o presente?

Calma, eu explico! Após o jogo todos se reuniram embaixo da árvore, que fica ao lado do estádio de Jauá. Me dirigi ao grupo para saber o nome do autor do gol de empate, ao retornar, distante pouco mais de 50 metros ouvi uma voz me chamando: "ei, de camisa do Brasil!" Olhei pra trás e era André Nilson. Voltei e perguntei: "colé parceiro!" 

E eu lá preciso de formalidade pra falar com gente igual a mim? Ele apontou o polegar em sinal de positivo e falou: "valeu!" Todos queriam saber o motivo pelo qual ele estava me agradecendo, depois ele até falou para os amigos, mas naquele instante, só o meu coração sabia o quanto estava sendo injetado de felicidade.

Apesar das lágrimas eu pedi encarecidamente, que ele deixasse ser fotografado ao meu lado. Isso não foi tudo, e não é que o Mateus também quis tirar foto comigo! Cenas como essas só se tem em futebol de várzea, onde os atletas usam o esporte por diversão e distribuem o que está faltando no mundo. Certo da missão cumprida, me afastei com os olhos rasos em lágrimas. 

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