O menino que comia pedra

Primeiro livro do Roger Bahia

                                 Imagem: Roger Bahia
Edição reescrita e modificada

O menino que comia pedra

Por: Roger Bahia
10 de outubro de 2013


Dos causos que ouvi falar
Muito me admirei
Sei que parece mentira
Mas em tudo acreditei
E resolvi te contar
Se é verdade eu não sei.

Não duvido de mais nada
Pois de tudo já vivi
Nessas minhas andanças
Muita coisa aprendi
Onde houver ser humano
O bem e o mal estão ali.

Certo dia viajando
“Pras” bandas lá do sertão
Visitei uma cidade
Por nome de Lajedão
Terra seca castigada
Mas que tinha um povo “bão”.      

Gente rica não morava
Por perto da redondeza
Em Lajedão do Timbó
Era grande a pobreza.
A gentileza do povo
Que era a grande riqueza

O mato tão gravetado
Para o gado não servia
Água suja de barro
O povo dali bebia
Diante de tanta miséria
Lamento não se ouvia.

Agora preste atenção
E veja que “pantumia”
Com prosas rimas e versos
Te conto com alegria
A história de um menino
Que era rico e não sabia.          

Dois dias depois que cheguei
Conheci um cidadão
Que me contou uma estória
Acontecida em Lajedão
De um menino estranho
Que mais parecia o “cão”.

O garoto era “arretado”
Fazia da pedra um pão
Na hora de defecar
Era grande a confusão
Era a grande atração
Do povo da região.

Aurino da Silva Filho
De dez anos de idade
Era a atração do turismo
Daquela pobre cidade
Mas apesar do problema
Vivia em liberdade.             

O pai já não sabia
O que fazer com o menino
O recurso que restava
Era apelar pro divino
Faziam rezas e preces
Mas nada mudava Aurino.

Aquela pobre criança
Que sofria do intestino
Não parava sossegado
Corria em desatino
E todo mundo queria
Dar um jeito no menino.  

Tentavam de todas as formas
Controlar o “arretado”
Só que ninguém sabia
Que era obra do diabo
Veja o que aconteceu
Com o pequeno malvado.  

Contaram naquelas terras
Que certo dia o menino
Ficou fora de si
E correu pelo caminho
Foi parar em um lajedo
Aonde chegou faminto.

O povo do lugarejo
O come pedra seguia
Para ver se era mentira
O que a turma dizia
E por incrível que pareça
Olha o que acontecia.

Comia pedaços de pedra
E tudo fazia sorrindo
E na barriga do garoto
A pedra ia digerindo
Mas na hora de sair
Era agonia pro menino.           

Um morador do lugar
Por nome de Agenor
Me disse que aquilo era
Um caso para um doutor
E foi um especialista
Que o menino curou. 

O fuxico se espalhou
E todos queriam ver
Chegavam religiosos
Pra aquela alma benzer
Mas preste muita atenção
No que ia acontecer.       

Um safado bandido
Que no meio se infiltrou
Vivia de pilantragens
E um plano ele armou
Para ganhar muita grana
Mas pra ninguém ele contou.    

O safado muito esperto
Contou aos pais de Aurino
Que era homem confiável
E que servia ao divino
Queria levar a criança
Para cuidar do intestino.

Rumo à cidade grande
Os dois seguiram andando
Na longa estrada de chão
O pilantra ia pensando
No seu brilhante espetáculo
Que el estava tramando.

O artista ele trazia
Ao seu lado caminhando
Aurino nem percebia
Que aquilo era um plano
Para enricar o pilantra
Que seguia assobiando.   

Chagando lá na cidade
O Explorador bem esperto
Pediu para Aurino
Ficar ali por perto
Enquanto ia procurar
Aonde comprar o remédio.

Zé pilantra anunciou
Na praça da capital
Que tinha uma surpresa
Nunca vista igual
Ele tinha um menino
Que era sobrenatural.

Para ver a proeza
Que o astuto armou
Era preciso pagar
E um real ele cobrou
Mas nem todos da cidade
O pilantra enganou.        

O povo acreditava
No malandro muito esperto
Mas logo seu belo plano
Seria descoberto
Por um doutor otorrino
Que passava ali por perto.

Ao ver o pobre menino
O médico logo entendeu
Que havia algo errado
E foi ai que percebeu
Que para curar o menino
Faltava pedir a Deus.

Ele sensibilizado
Foi um grande ajudador
Do pobre que era explorado
Por um falso pastor
Que buscava os honorários
Sem piedade nem amor.   

O doutor Marcelo Couto
Que tratava desses casos
Chamou um policial
Para ver o tal descaso
E levou o garotinho
Pro hospital do estado.

Dos exames de Aurino
Foram bons os resultados
E todo seu sofrimento
Estava com dias contados
Mas para isso acontecer
Um milagre era aguardado.

Aurino ficou curado
Pra seguir o seu destino
E voltar pra sua terra
E deixar de ser peregrino
Mas faltava uma coisa
Acontecer com o menino.  

O doutor Marcelo Couto
Do garoto se agradou
Matriculou na escola
E em sua casa o deixou
E cresceu estudando
Até que se formou.

Aurino ficou adulto
E pra médico estudou
Voltando pra sua terra
Muita gente ajudou
A se livrar da agonia
Da tristeza e da dor.

Aurino se elegeu
A prefeito da cidade
E tudo que ele fazia
Era por pura caridade
Ajudou viúvas pobres
Órfãos, pastores e padres.   

O fim do Zé Pilantra
Até hoje não se sabe
Uns dizem que está maluco
E perdeu a liberdade
Porque não se arrependeu
Daquela grande maldade.

A vida foi caridosa
Com o menino do sertão
Mas saiba que essa estória
Não é verdade não
Apenas te conto isso
Para lembrar a razão.

O destino da criança
Só Deus pode saber
E não se deve maltratar
Quem não pode se defender
O conto do come pedra
Tem um pouco de você. 

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