O mentiroso e a alma penada

Este é o 6º exemplar de Roger Bahia

                                                       Imagem: Roger Bahia
História contada por Roque Maraú

O mentiroso e a alma penada


Por: Roger Bahia
28 de janeiro de 2014

Na região Sul da Bahia
Na cidade de Wenceslau
Moram poucos habitantes
Lá eles plantam cacau
O rio é limpo e bonito
A atração do local.

Foi lá que eu conheci
Um mentiroso esperto
Vivia contando lorotas
E achava aquilo certo
Tudo ele aumentava
Não esquentava com o resto.

O cara era bem esquisito
Tinha cabeça redonda
Barriga feito barril
E bunda de tanajura
O nariz era afilado
E andava feito corcunda.      01

Além de ser mentirosos
O rapaz era engraçado
Onde ele chegava
Ninguém ficava parado
E todos queriam ficar
Conversando ao seu lado.

Certo dia ele me disse
Que quando era pequeno
Brigou com um lobisomem
Que dele saiu correndo
E era assim a rotina
De Manoel Santos Rosendo.

Em casos de pescaria
Rosendo se saia bem
E quando alguém perguntava
Ele mentia também
Seus peixes eram bem grandes
Mas nunca mostrava a ninguém.      02

O caso do lobisomem
Eu vou contar pra você
Do jeito que ele me disse
Só acredita quem vê
Mas não custa acreditar
Para o amigo manter.

Na noite de lua cheia
Rosendo foi namorar
E envolvido nas carícias
Não viu a hora passar
Pertinho da meia noite
Voltou para o seu lar.

No caminho a mata virgem
Era preciso atravessar
Munido de uma lanterna
Para o caminho alumiar
Mas veja que pantumia
Manoel ia encontrar.      03

Sozinho ele seguia
Quando ouviu um som estranho
Um vulto passou bem perto
O vento estava soprando
E apontou sua lanterna
Para o que estava assombrando.

Rosendo disse que viu
Os dentes bem afiados
Unhas pontiagudas
E olhos esbugalhados
Orelhas bem cabeludas
E o danado tinha rabo.

Manoel vendo aquilo
Pulou em cima do bicho
Brigaram por muito tempo
Se encheram de carrapicho
Rosendo disse que ele
Não se dava por vencido.    04

Naquela grande labuta
O monstro se acovardou
E saiu em disparada
Gritando, gemendo de dor
Se é verdade eu não sei
Mas foi assim que me contou.

Ao chegar à sua casa
Contou para seu irmão
Que juntos foram à caça
Armados com um facão
Mas não encontraram o bicho
Que causava assombração.

Rosendo contou ainda
Que na roça de graviola
Colheu uma fruta tão grande
Que foi preciso uma carroça
Para levar até à feira
É o transporte quebrou a roda.               05

Mentia porque sabia
Este era seu ofício
Falar uma verdade
Isso era em difícil
Mas saiba que a mentira
Só leva ao precipício.

De todas as mentiras
Que Manoel já contou
Teve uma cabeluda
Que muito me admirou
E afirmou ser verdade
Sua lorota de terror.

Era sexta-feira treze
Quando o caso aconteceu
Em noite de lua cheia
Vamos ver no que se deu
Com certo caroneiro
Que a muito tempo morreu.             06

O mentiroso atrevido
Pediu toda atenção
E começou o relato
Com muita empolgação
Todos ficam atentos
Para ouvir a narração.

Rosendo ia falando
Com toda sinceridade
E para quem escutava
Pensava que era verdade
Pois um bom mentiroso
Mente com naturalidade.

Ele disse que um dia
Saiu para jogar bola
Em sua caminhonete
Que ganhara numa aposta
E na carroceria do carro
Iam: os amigos e a pelota.        07

O campo era distante
Em um bairro deserto
Mas para chegar lá
Passava no cemitério
Foi na sexta-feira treze
Que aconteceu o revertério.

Jogaram a tarde toda
Até ao escurecer
E Rosendo não saia
O que ia acontecer
Com uma alma penada
Que ia lhe aparecer.

Antes de voltar pra casa
Pararam numa bodega
Tomaram umas e outras
Era grande a galera
Na hora de irem embora
Estavam trocando as pernas.             08

Contou o tal mentiroso
Que ao sair com o carro
Estava tudo certo
E o tempo estava claro
Dirigia devagar
Pra não cair no buraco.

Ao chegar ao campo santo
Rosendo se assustou
E viu que mais uma pessoa
Na carroceria pongou
Estava todo de branco
Como em filme de terror.

Depois de alguns minutos
Os amigos perceberam
E o susto foi tão grande
Que todos dali correram
Com o carro em movimento
Mas não se arrependeram.        09

O motorista assustado
Seguiu guiando o carro
E quando olhou adiante
O homem fumava um cigarro
Pedindo uma carona
Com o olho esbugalhado.

Rosendo não entendeu
E continuou a guiar
E pelo retrovisor
Ele ficava a olhar
E viu na carroceria
O homem de branco a fumar.

O carro de tão pesado
Não saia do lugar
O peso da alma penada
Fazia Rosendo acelerar
Engatou marcha de força
Mas o carro só andava devagar.   10

Com toda aquela agonia
Ele começou a orar
E disse que clamou a Deus
Para aquela alma salvar
Foi que ele percebeu
O carro sozinho acelerar.

Com cabelo arrepiado
Tremendo igual vara verde
Ele contou que na vida
Nunca teve um susto desse
E tudo voltou ao normal
Como se nada acontecesse.

Está escrito na bíblia
Mentir é coisa cruel
Quem ama e comete a mentira
Não vai poder entrar no céu
E quem permanece no erro
Vai parar no beleleu.        11

Rosendo envergonhado
Por ninguém acreditar
Passou a falar a verdade
Pra sua vida então mudar
Deixou de ser mentiroso
Pra no céu poder entrar.

O mentiroso entendeu
Que mentir nunca faz bem
Ele aprendeu a lição
Temos que aprender também
Falar somente a verdade
É isso que nos convém.

Assim encerro a história
Espero que tenha entendido
E saiba que a mentira
É coisa do inimigo
Parece inacreditável
Mas isso aconteceu comigo.   12


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